CBD e a Esquizofrenia: Potencial terapêutico

O que é a Esquizofrenia

A esquizofrenia é um transtorno mental grave caracterizado por sintomas psicóticos, cognitivos e emocionais que afetam profundamente o comportamento e a perceção da realidade.
Geralmente, manifesta-se no final da adolescência ou início da idade adulta, embora possa surgir mais tarde, sobretudo em mulheres (Lopez-Castroman, 2019).

De acordo com o DSM-5 e a Classificação Internacional de Doenças (CID), o diagnóstico baseia-se na presença de delírios, alucinações, discurso desorganizado, isolamento emocional e défices cognitivos persistentes (Kahn, 2015).

Estima-se que a esquizofrenia afete mais de 20 milhões de pessoas em todo o mundo, representando uma das principais causas de incapacidade global (Spencer, 2018).

Além do impacto humano e social, os custos de tratamento e perda de produtividade são elevados — nos EUA, podem ser até 76% superiores em comparação com indivíduos sem esquizofrenia (Cloutier, 2016).

Tratamento Atual e Limitações

O tratamento padrão envolve antipsicóticos, geralmente combinados com intervenções psicossociais e psicoterapia.

Apesar disso, entre 30% e 60% dos pacientes não respondem adequadamente à medicação disponível (Gillespie, 2017).

Este cenário tem levado à investigação de novas abordagens terapêuticas, entre as quais o canabidiol (CBD), um composto natural derivado da planta Cannabis sativa L..

O CBD não é psicoativo e é estudado pelo seu potencial modulador do sistema endocanabinoide, com efeitos observados em condições neurológicas e psiquiátricas, incluindo epilepsia, ansiedade, Parkinson e esquizofrenia (Cohen, 2019; Chesney, 2020).

Como o CBD Pode Atuar na Esquizofrenia

O sistema endocanabinoide (SEC), presente no cérebro humano, participa na modulação da neurotransmissão, plasticidade sináptica e resposta ao stress.
Evidências sugerem que esse sistema está alterado em pessoas com esquizofrenia, o que pode contribuir para desequilíbrios dopaminérgicos e glutamatérgicos associados aos sintomas psicóticos (An, 2020).

O CBD parece aumentar os níveis de anandamida, um endocanabinoide conhecido como “molécula da felicidade”, através da inibição da sua degradação.
A anandamida tem sido associada à redução de sintomas psicóticos e à melhoria cognitiva (Leweke, 2012).

Além disso, o CBD atua como modulador alostérico negativo dos recetores CB1, o que significa que pode atenuar a atividade excessiva da dopamina, comum em estados psicóticos (Laprairie, 2015).

Também interage com outros sistemas de recetores, como 5-HT1A (serotonina) e TRPV1, que influenciam o humor e a resposta emocional (Schoevers, 2020).

Evidência Científica: O Que Mostram os Estudos

As primeiras observações clínicas datam de 1995, quando um caso de paciente tratado com CBD apresentou melhoria significativa em sintomas psicóticos (Zuardi, 1995).

Desde então, vários estudos clínicos e pré-clínicos reforçaram a hipótese de que o CBD pode exercer efeitos antipsicóticos sem causar os efeitos adversos típicos dos antipsicóticos convencionais.

Em modelos animais, o CBD mostrou-se tão eficaz quanto a clozapina, um antipsicótico atípico, na redução da hiperatividade induzida por anfetamina (Moreira, 2005).

Em humanos, ensaios controlados demonstraram que o CBD atenua os efeitos psicóticos induzidos pela cetamina e melhora a perceção de realidade em voluntários saudáveis (Hallak, 2011).

Estudos de neuroimagem também revelaram efeitos opostos entre THC e CBD — o THC induz sintomas psicóticos, enquanto o CBD parece proteger contra eles (Bhattacharyya, 2010; 2012; 2015).

Num dos ensaios mais relevantes, McGuire et al. (2018) verificaram que pacientes com esquizofrenia tratados com CBD como adjuvante à medicação antipsicótica apresentaram melhorias nos sintomas positivos e cognitivos, sem aumento de efeitos adversos.

Mais recentemente, Borgwardt e colegas (2023) observaram que o CBD pode influenciar a conectividade funcional cerebral, ajudando a normalizar padrões de atividade alterados em regiões ligadas à psicose (Schizophrenia Bulletin Open, 2023).

Segurança e Efeitos Adversos

O CBD é geralmente bem tolerado, com efeitos secundários leves, como fadiga, alterações gastrointestinais ou sonolência em doses elevadas (OMS, 2017; Chesney, 2020).

Contudo, é importante ressaltar que o CBD pode interagir com medicamentos antipsicóticos metabolizados pelas enzimas CYP450, motivo pelo qual o uso deve ser sempre supervisionado por um médico (Brown & Winterstein, 2019).

Os resultados até agora são promissores, mas a comunidade científica destaca a necessidade de ensaios clínicos de longa duração e amostras maiores para confirmar o papel terapêutico do CBD na esquizofrenia.

Curiosidades: Impressões Digitais e Desenvolvimento Cerebral

Um aspeto curioso é que alguns pacientes com esquizofrenia apresentam padrões de impressões digitais diferentes da população geral.

Estes padrões anormais podem refletir alterações no desenvolvimento embrionário, uma vez que as cristas dérmicas e o cérebro se formam simultaneamente no útero (Margolis, 1993).

Esta observação reforça a ideia de que a esquizofrenia tem origens neurodesenvolvimentais, e não apenas genéticas ou ambientais.

Conclusão

A evidência científica atual indica que o CBD tem potencial como agente antipsicótico inovador, capaz de modular o sistema endocanabinoide e melhorar sintomas cognitivos e positivos da esquizofrenia.
Contudo, ainda não substitui os tratamentos convencionais e deve ser usado apenas como complemento sob supervisão médica. Com mais estudos em andamento, o CBD poderá vir a representar uma nova abordagem terapêutica mais segura e tolerável, especialmente para pacientes que não respondem bem aos antipsicóticos tradicionais.

 

Referências Científicas:
  1. Millan, M.J. (2016). Schizophrenia: a disorder of distributed neural circuit dysfunction. European Neuropsychopharmacology, 26(1).
  2. Lopez-Castroman, J. et al. (2019). Sex differences in schizophrenia onset and course. Psychiatry Research, 276, 412–420.
  3. Kahn, R.S. et al. (2015). Schizophrenia. Nature Reviews Disease Primers, 1, 15067.
  4. Cloutier, M. et al. (2016). Economic burden of schizophrenia in the US. Journal of Clinical Psychiatry, 77(6), 764–771.
  5. Cohen, K. (2019). Cannabinoids for psychiatric disorders: from molecular pathways to clinical evidence. Dialogues in Clinical Neuroscience.
  6. Chesney, E. et al. (2020). Cannabidiol (CBD) safety and tolerability in humans. Neuropsychopharmacology, 45(7), 1316–1331.
  7. An, D. et al. (2020). Alterations of the endocannabinoid system in schizophrenia: review of evidence. Neuroscience Letters, 732, 135087.
  8. Leweke, F.M. et al. (2012). Cannabidiol enhances anandamide signaling and alleviates psychotic symptoms. Translational Psychiatry, 2, e94.
  9. Laprairie, R.B. et al. (2015). Negative allosteric modulation of the CB1 receptor by cannabidiol. British Journal of Pharmacology, 172(20), 4790–4805.
  10. Bhattacharyya, S. et al. (2010, 2012, 2015). Opposite effects of Δ9-THC and CBD on brain function and psychosis. Neuropsychopharmacology.
  11. McGuire, P. et al. (2018). Cannabidiol (CBD) as an adjunctive therapy in schizophrenia. American Journal of Psychiatry, 175(3), 225–231.
  12. Borgwardt, S. et al. (2023). CBD and functional brain connectivity in schizophrenia. Schizophrenia Bulletin Open, 3(1), sgad023.
  13. Brown, J.D. & Winterstein, A.G. (2019). CBD–drug interactions. J. Clin. Med., 8(7), 989.
  14. World Health Organization (2017). Critical Review Report on Cannabidiol (CBD). Geneva: WHO.
  15. Margolis, R.L. (1993). Dermatoglyphic abnormalities in schizophrenia: clues to neurodevelopmental disruption. Schizophrenia Research, 9(1), 19–24

 

Aviso importante

As informações apresentadas neste artigo têm caráter exclusivamente informativo e educacional. O uso de produtos com CBD é da responsabilidade exclusiva do consumidor. A Native Amsterdam não promove nem recomenda a utilização de produtos com CBD para fins medicinais ou de ingestão.

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