Introdução
O interesse em CBD e epilepsia tem aumentado significativamente nos últimos anos. O canabidiol (CBD), um dos principais compostos da planta Cannabis sativa L., não tem efeitos psicoativos e tem sido amplamente investigado pelo seu potencial de influenciar a atividade elétrica cerebral (Devinsky et al., 2017).
O CBD atua sobre o sistema endocanabinoide, que existe também no cérebro e ajuda a regular a comunicação entre neurónios. Em algumas formas de epilepsia, esta regulação parece contribuir para reduzir a frequência e intensidade das convulsões (Rosenberg et al., 2017).
Como o CBD pode atuar nas crises epiléticas
Um estudo recente da NYU Grossman School of Medicine demonstrou que o CBD bloqueia sinais enviados pela molécula lisofosfatidilinositol (LPI) — que normalmente amplifica a comunicação entre neurónios, podendo favorecer convulsões repetidas (Lukacs et al., 2023).
De forma simples, o CBD pode ajudar a “acalmar” a atividade excessiva dos neurónios, permitindo que o cérebro volte a um estado de equilíbrio.
Este tipo de descoberta explica o interesse crescente no uso de CBD em casos de epilepsia resistente a medicamentos.
A OMS, o CBD e a epilepsia
A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu, em 2018, que o CBD é geralmente seguro e bem tolerado, sem potencial de dependência. A entidade identificou evidência científica sólida para o uso de CBD em formas graves de epilepsia infantil, como a síndrome de Dravet e a síndrome de Lennox-Gastaut (OMS, 2018).
Os estudos clínicos mostram que, quando usado como terapia complementar, o CBD pode reduzir de forma significativa o número de crises epiléticas (Devinsky et al., 2018).
É importante sublinhar que o CBD não substitui os fármacos antiepiléticos, devendo o seu uso ser sempre acompanhado por um médico.
Formas de epilepsia estudadas
As principais síndromes estudadas com resultados positivos incluem:
Síndrome de Dravet
Síndrome de Lennox-Gastaut
Esclerose tuberosa
Nestes casos, as reduções médias no número de crises variam entre 30 % e 40 % (Thiele et al., 2018).
Outros tipos de epilepsia — como deficiência em CDKL5, síndrome de Aicardi, Dup15q, síndrome de Doose e síndrome de Rett — continuam a ser investigados (Franco & Perucca, 2019).
De acordo com a Liga Portuguesa Contra a Epilepsia, o CBD representa hoje uma das áreas mais promissoras da investigação neurológica, mas ainda requer dados robustos sobre segurança e eficácia (LPCE, 2024).
Segurança e acompanhamento médico
Apesar dos bons resultados, é fundamental lembrar que o CBD não é considerado um medicamento em Portugal.
O seu uso deve ser feito sob supervisão médica, pois o canabidiol pode interagir com outros fármacos antiepiléticos, alterando a forma como são metabolizados (Geffrey et al., 2015).
Em Portugal, o Infarmed regula o uso de produtos com canábis medicinal; fora desse enquadramento, os produtos com CBD só são permitidos para uso cosmético ou de bem-estar.
CBD em Portugal e na Europa
O interesse em canábis medicinal e epilepsia também tem crescido a nível europeu. Em Portugal, estudos e revisões académicas recentes, como a dissertação “Canábis Medicinal – a realidade em Portugal” (Cardeira, 2022), destacam o aumento de casos em que o CBD é utilizado sob supervisão médica em contexto hospitalar.
Na área da neurologia, o artigo “Canábis Medicinal na Neurologia Clínica: Uma Nuvem de Incertezas” (Carneiro, 2019) reforça que, embora a evidência seja promissora, a padronização de doses e formulações continua a ser um dos maiores desafios.
Curiosidades sobre a epilepsia
O primeiro registo conhecido sobre epilepsia data de 1067–1046 a.C., num texto médico babilónico chamado Sakikku, que descrevia sintomas e diferentes tipos de convulsão (Scurlock, 2014).
A cor roxa simboliza a epilepsia. O Purple Day foi criado por Cassidy Megan, uma jovem canadiana com epilepsia, para promover a consciencialização global.
Considerações finais
O número de estudos sobre CBD e epilepsia tem aumentado de forma consistente, mostrando resultados promissores, especialmente em síndromes epiléticas raras.
Contudo, é essencial manter uma abordagem baseada na evidência e no acompanhamento médico.
O futuro poderá trazer novas soluções terapêuticas, mas por agora o mais importante é estar informado, agir com cautela e seguir sempre a orientação de profissionais de saúde.
Referências científicas
- Devinsky, O. et al. (2017). Trial of Cannabidiol for Drug-Resistant Seizures in the Dravet Syndrome. New England Journal of Medicine.
- Devinsky, O. et al. (2018). Effect of Cannabidiol on Drop Seizures in the Lennox–Gastaut Syndrome. New England Journal of Medicine.
- Rosenberg, E. C., Tsien, R. W., Whalley, B. J., Devinsky, O. (2017). Cannabinoids and Epilepsy. Neurotherapeutics.
- Lukacs, V. et al. (2023). Cannabidiol blocks LPI-GPR55 signaling to inhibit seizure propagation. Neuron.
- OMS (2018). Cannabidiol (CBD) Pre-Review Report. World Health Organization.
- Thiele, E. A. et al. (2018). Cannabidiol in patients with seizures associated with Lennox–Gastaut syndrome. Lancet.
- Franco, V., Perucca, E. (2019). Pharmacological and Therapeutic Properties of Cannabidiol for Epilepsy. Drugs.
- Geffrey, A. L. et al. (2015). Drug–drug interaction between clobazam and cannabidiol in children with refractory epilepsy. Epilepsia.
- LPCE (2024). Epilepsia e Canabidiol. Liga Portuguesa Contra a Epilepsia. Disponível em epilepsia.pt.
- Cardeira, C. (2022). Canábis Medicinal – A Realidade em Portugal. Dissertação de Mestrado, Universidade do Algarve.
- Carneiro, D. R. (2019). Canábis Medicinal na Neurologia Clínica: Uma Nuvem de Incertezas. Ordem dos Psicólogos Clínicos de Portugal.
- Freitas, A. et al. (2024). Canabidiol: Uma promissora abordagem no tratamento da epilepsia. ResearchGate.
- Scurlock, J. (2014). Sourcebook for Ancient Mesopotamian Medicine.
Aviso importante
As informações apresentadas neste artigo têm caráter exclusivamente informativo e educacional. O uso de produtos com CBD é da responsabilidade exclusiva do consumidor. A Native Amsterdam não promove nem recomenda a utilização de produtos com CBD para fins medicinais ou de ingestão.

