CBD e o Cancro: O que diz a ciência

Introdução

A planta Cannabis sativa L. é utilizada há milhares de anos por diferentes civilizações devido às suas propriedades medicinais. Contém mais de 500 compostos bioativos, conhecidos como metabólitos secundários, responsáveis pelos seus potenciais efeitos terapêuticos.

Entre os principais destacam-se o canabidiol (CBD) e o tetra-hidrocanabinol (THC). Ao contrário do THC, o CBD não possui efeitos psicoativos, sendo por isso considerado seguro e bem tolerado em diferentes faixas etárias e condições clínicas.

Estudos pré-clínicos e clínicos sugerem que o CBD pode interagir com processos celulares relevantes na oncologia, incluindo regulação da inflamação, stress oxidativo, dor, ansiedade e proliferação celular.

Neste artigo, exploramos o que a ciência tem descoberto sobre o potencial do CBD no contexto do cancro, especialmente no controlo de sintomas e possível papel integrativo com terapias convencionais.

O Uso do CBD Entre Pacientes Oncológicos

Diversos estudos observacionais demonstram um aumento no uso de CBD por pacientes com cancro.

Um inquérito realizado com 926 pacientes do Centro de Investigação do Cancro Fred Hutchinson (Seattle) revelou que 66% já tinham utilizado CBD em algum momento.

Entre os utilizadores ativos, 75% recorreram à canábis para sintomas físicos — como dor, náusea e perda de apetite — e 63% para sintomas emocionais, incluindo ansiedade, stress e insónia.

Outro levantamento com 612 pessoas diagnosticadas com cancro da mama, nas comunidades Breastcancer.org e Healthline.com, mostrou que 42% utilizavam CBD para alívio sintomático, principalmente para dor (78%), insónia (70%) e ansiedade (57%).

Embora alguns participantes acreditassem que o CBD poderia “tratar” o cancro, a evidência clínica atual não suporta essa conclusão. O que se observa, sim, é o potencial do CBD como suporte complementar no bem-estar físico e emocional durante o tratamento.

Como o CBD Atua no Organismo

O CBD atua através do sistema endocanabinoide (SEC), presente em vários tecidos do corpo humano, incluindo o sistema nervoso e o sistema imunitário.
Este sistema participa na regulação da dor, inflamação, stress celular e apoptose (morte programada de células alteradas).

Pesquisas laboratoriais sugerem que o CBD pode modular vias moleculares associadas à tumorigénese, afetando a proliferação e migração celular. Além disso, não parece danificar células saudáveis, o que reforça o interesse científico no seu uso potencial em oncologia (Seltzer et al., 2020).

No entanto, é importante salientar que a maioria dos resultados provém de estudos pré-clínicos, realizados em culturas celulares ou modelos animais, ainda sem confirmação definitiva em humanos.

Evidência Pré-Clínica

Estudos realizados nas últimas duas décadas identificaram efeitos antiproliferativos, antiangiogénicos e pró-apoptóticos do CBD em modelos de diferentes tipos de cancro — incluindo glioblastoma, mama, pulmão, próstata, cólon e melanoma (Mangal et al., 2021; Moreno et al., 2022).

A atividade antitumoral parece estar relacionada à regulação das espécies reativas de oxigénio (ROS), stress do retículo endoplasmático e modulação imunológica.

Por exemplo, em modelos de melanoma, o tratamento com CBD foi associado a redução significativa do volume tumoral e aumento da sobrevivência dos animais tratados em comparação com o grupo controlo (MDPI, 2020).

Contudo, é fundamental destacar que estes efeitos ainda não foram comprovados clinicamente em humanos, sendo a maioria dos dados exploratória e experimental.

CBD como Complemento em Cuidados Oncológicos

Nos últimos anos, várias revisões sistemáticas analisaram o papel do CBD no alívio de sintomas relacionados com o cancro e os seus tratamentos.
Os resultados indicam que o CBD, isoladamente ou em combinação com o THC, pode ajudar a reduzir náuseas, vómitos e dor neuropática associados à quimioterapia (Blake et al., 2021; Häuser et al., 2023).

Além disso, há evidências preliminares de que o CBD pode melhorar o sono, reduzir a ansiedade e aumentar o apetite, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes oncológicos.
Ainda assim, os resultados variam entre estudos, devido às diferenças de dose, formulação e duração do tratamento.

Limitações da Evidência e Contexto Regulatório

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o CBD é considerado seguro, bem tolerado e sem potencial de dependência (WHO, 2020).
Contudo, a Agência Europeia do Medicamento (EMA) reforça que ainda não existem ensaios clínicos controlados suficientes para recomendar o CBD como agente terapêutico no tratamento do cancro (EMA, 2023).
Assim, a investigação continua ativa, mas o CBD deve ser visto como um composto em estudo, não como substituto dos tratamentos convencionais.

Conclusão

O CBD é um composto de elevado interesse científico na área oncológica, com dados promissores em modelos pré-clínicos e evidências crescentes do seu potencial para aliviar sintomas associados ao tratamento do cancro. Apesar do entusiasmo, a ciência ainda não confirma um papel terapêutico direto do CBD contra o cancro.

O uso responsável e supervisionado pode, no entanto, oferecer benefícios complementares no conforto e bem-estar dos pacientes, sempre integrado num plano médico individualizado.

Referências Científicas
  1. Seltzer, E.S. et al. (2020). Cannabidiol (CBD) in Cancer Management. Cancers, 12(11), 3203.
  2. Mangal, N. et al. (2021). CBD as a Physiological Modulator in Cancer. AARM Journal.
  3. Moreno, E. et al. (2022). Biology of CBD in Tumor Microenvironment Modulation. MDPI Biology, 11(8), 817.
  4. National Center for Biotechnology Information (2022). Cannabidiol and Cancer – Review of Evidence
  5. Blake, A. et al. (2021). Cannabinoids for Nausea and Vomiting in Cancer Patients Receiving Chemotherapy. Cochrane Database Syst. Rev., (11), CD009464.
  6. Häuser, W. et al. (2023). Efficacy, Tolerability, and Safety of Cannabinoids for Cancer-Related Pain. Pain, 164(5), 980–992.
  7. Zendulka, O. et al. (2020). Cannabinoids and Cytochrome P450 Interactions. Current Drug Metabolism, 21(5), 356–371.
  8. Brown, J.D., & Winterstein, A.G. (2019). Potential Adverse Drug Events and Drug–Drug Interactions with Cannabidiol (CBD) Use. J. Clin. Med., 8(7), 989.
  9. World Health Organization (2020). Critical Review Report on Cannabidiol (CBD). Geneva: WHO.
  10. European Medicines Agency (2023). Cannabidiol and Other Cannabinoids: Regulatory Status and Evaluation.
  11. Universidade Católica Portuguesa (2023). Cannabinoids in Oncology: Mechanisms and Evidence.

 

Aviso importante

As informações apresentadas neste artigo têm caráter exclusivamente informativo e educacional. O uso de produtos com CBD é da responsabilidade exclusiva do consumidor. A Native Amsterdam não promove nem recomenda a utilização de produtos com CBD para fins medicinais ou de ingestão.

 

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