CBD para animais: o que diz a ciência sobre o uso veterinário

Introdução

O interesse em CBD para animais está a crescer em todo o mundo. Embora o uso veterinário de produtos com canabidiol ainda não seja uma prática comum, cada vez mais tutores e profissionais relatam experiências positivas em diferentes contextos — sempre com cuidado e consciência sobre a segurança e a dosagem.

Curiosamente, o uso de Cannabis medicinal em animais não é algo novo. Há registos que mostram que os antigos gregos já usavam soluções à base de Cannabis para tratar cavalos com cólicas, inflamações e feridas de batalha. A ciência moderna apenas começou a explorar, de forma sistemática, o potencial do CBD em contexto veterinário — e os resultados iniciais têm sido promissores [Wakshlag et al., 2018].

Se quiseres perceber melhor o que é o CBD e como funciona, recomendamos o artigo Introdução ao CBD.

O primeiro estudo científico em animais

O primeiro estudo científico conhecido sobre uso de Cannabis em animais foi publicado em 1899 por Walter E. Dixon, médico e farmacologista inglês, no British Medical Journal. Dixon observou as reações de gatos e cães expostos a concentrações elevadas de THC, o principal composto psicoativo da planta.

Mais de um século depois, a investigação voltou-se para compostos não psicoativos, como o canabidiol (CBD). Estudos recentes analisam o seu potencial em condições como dor, inflamação, epilepsia, ansiedade e problemas de pele [Gamble et al., 2018; McGrath et al., 2019].

O sistema endocanabinoide nos animais

Tal como os humanos, todos os mamíferos têm um sistema endocanabinoide, uma rede de recetores e neurotransmissores que regula funções essenciais como o apetite, o humor, a dor e o sono.

Nos cães, há uma particularidade interessante: eles têm uma maior concentração de recetores endocanabinoides no tronco cerebral e cerebelo do que outras espécies [Silver, 2019]. Isso torna-os mais sensíveis aos efeitos do THC, motivo pelo qual os produtos veterinários devem conter apenas CBD derivado do cânhamo, praticamente sem THC.

Nos gatos, essa sensibilidade é menor, mas as diferenças fisiológicas entre espécies exigem sempre cuidados na dosagem e monitorização.

Métodos de administração de CBD para animais

O método mais comum é através de óleos de CBD diluídos em azeite ou óleo de coco, administrados diretamente na boca ou misturados com a comida.

Outras formas incluem:

  • Guloseimas com infusão de CBD: fáceis de administrar e com concentrações seguras de CBD derivado do cânhamo, geralmente sem THC.

  • Soluções tópicas: usadas para irritações cutâneas ou dores localizadas (pode ser necessário aparar o pelo).

  • Nunca utilizar vaporizadores ou métodos inaláveis: os sistemas respiratórios dos animais são muito sensíveis e não estão preparados para este tipo de administração.

Principais áreas estudadas

Artrite e dor crónica

Estudos da Cornell University College of Veterinary Medicine mostraram que cães com artrite tratados com CBD (9,7 mg/kg, duas vezes por dia, durante um mês) apresentaram melhorias significativas na dor e na mobilidade [Wakshlag et al., 2018].
Alguns dos cães que inicialmente estavam prestes a ser eutanasiados devido à dor, recuperaram qualidade de vida após o tratamento.

Dermatite e prurido

Estudos clínicos cegos e controlados por placebo mostraram que o CBD reduziu o prurido e as lesões cutâneas em cães com dermatite alérgica. Um ensaio australiano conduzido pela CannPal reportou uma redução média de 51 % das lesões após oito semanas de uso [CannPal, 2020].
Resultados semelhantes foram obtidos nos EUA pela ElleVet Sciences, com melhorias relatadas pelos donos dos animais.

Câncro

Num estudo da Cornell University, o CBD combinado com quimioterapia reduziu a proliferação de células tumorais in vitro em comparação com o uso apenas do medicamento convencional [Cornell Vet, 2018].
Ainda assim, não há evidência suficiente para recomendar o CBD como tratamento contra o cancro em animais.

Ansiedade e comportamento

O CBD para cães ansiosos é uma das utilizações mais populares. Um estudo da University of Western Australia mostrou resultados promissores na redução de reatividade ao ruído e comportamentos agressivos [UWA, 2021].
Os investigadores alertam, contudo, que o efeito pode variar conforme a dose, o temperamento do animal e o produto utilizado.

Convulsões e epilepsia

A Colorado State University realizou um ensaio clínico em cães com epilepsia idiopática resistente a tratamento, demonstrando uma redução média de 33 % na frequência de convulsões nos cães que receberam CBD durante 12 semanas [McGrath et al., 2019].
Ainda assim, alguns cães não apresentaram melhorias, e a fundação AKC Canine Health Foundation está a financiar novos estudos para compreender melhor essa variabilidade.

Outros efeitos estudados

Modelos laboratoriais apontam também para potenciais benefícios do CBD em:

  • Cicatrização óssea e recuperação muscular [Kogan et al., 2021];

  • Doenças inflamatórias intestinais;

  • Náuseas e vómitos [Parker et al., 2002];

  • Degeneração medular e envelhecimento cerebral.

Todos estes dados são preliminares — o CBD mostra potencial, mas ainda não há provas clínicas robustas em larga escala.

Dosagem e segurança

Os animais não são “pequenos humanos”. As diferenças fisiológicas entre espécies tornam essencial ajustar a dosagem com cuidado.
A recomendação geral é começar com doses baixas e aumentar gradualmente até observar efeitos positivos — sempre dentro dos limites seguros e com acompanhamento veterinário.

Produtos de qualidade devem ter rótulos claros, certificados de análise laboratoriais e baixo teor de THC (< 0,2 %).

Conclusão

O interesse em CBD para animais reflete uma procura crescente por soluções naturais que promovam o bem-estar dos nossos companheiros.
A investigação científica tem apresentado resultados promissores, especialmente em áreas como dor, epilepsia e ansiedade, mas ainda há muito por estudar.

Enquanto não existirem mais ensaios clínicos controlados, o CBD deve ser visto como um complemento de bem-estar, e não um tratamento médico.

Referências bibliográficas
  1. Wakshlag, J. et al. (2018). Pharmacokinetics, Safety, and Clinical Efficacy of Cannabidiol Treatment in Osteoarthritic Dogs. Frontiers in Veterinary Science. PubMed
  2. McGrath, S. et al. (2019). Randomized, Blinded, Controlled Clinical Trial to Assess Oral Cannabidiol in Dogs with Epilepsy. Journal of the American Veterinary Medical Association. PubMed
  3. CannPal (2020). Efficacy of Hemp-Derived Cannabinoids in Canine Atopic Dermatitis. Internal Report.
  4. ElleVet Sciences (2020). CBD Oil in the Management of Canine Itching: Owner Reports.
  5. Cornell Vet (2018). Cannabidiol and Canine Cancer Cells: Preliminary Observations.
  6. UWA (2021). CBD and Behavioural Reactivity in Domestic Dogs. University of Western Australia.
  7. Parker, L. A. et al. (2002). Cannabidiol Suppresses Nausea in an Experimental Model with Rats. British Journal of Pharmacology. PubMed
  8. Kogan, L. et al. (2021). Veterinary Perspectives on Cannabidiol Use in Animals. Animals (MDPI).

 

Aviso importante

As informações apresentadas neste artigo têm caráter exclusivamente informativo e educacional. O uso de produtos com CBD é da responsabilidade exclusiva do consumidor. A Native Amsterdam não promove nem recomenda a utilização de produtos com CBD para fins medicinais ou de ingestão.

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