CBD para uso veterinário

CBD para uso veterinário

Embora a utilização de CBD para o uso veterinário esteja ainda longe de ser uma prática comum, são cada vez mais os profissionais que identificam imensos benefícios da sua utilização em animais. Porém, o tratamento de animais com Cannabis e os seus derivados é uma prática tão antiga como o tratamento de condições médicas em humanos. Por exemplo, sabemos que os Gregos usavam uma solução à base de Cannabis para tratar cavalos nos casos de cólicas, inflamações e até mesmo para sarar feridas oriundas dos campos de batalha.

O primeiro estudo científico em animais

O primeiro estudo científico viria muitos nos mais tarde, mas ainda assim no longínquo século 19, mais propriamente no seu ultimo ano, 1899. Este foi publicado no British Medical Journal por Walter E. Dixon, médico e farmacologista inglês que nele fez observações sobre as reações de gatos e cães, quando expostos a valores elevados de THC, um dos muitos componentes da Cannabis. Felizmente, nos últimos anos têm-se verificado um maior interesse da comunidade científica em estudar possíveis benefícios em terapias com base em derivados da Cannabis como o CBD. Os resultados não se fizeram esperar e apresentam-se muito promissores e com uma excelente resposta em casos de dor, inflamação, artrite, câncer, convulsões e problemas digestivos.

O Sistema Endocanabinoide nos animais

Todos os mamíferos têm um sistema Endocanabinoide, uma rede de neurotransmissores profundamente envolvida em processos fisiológicos como o apetite, a dor, a sensibilidade, o humor e a memória. No entanto, será importante salientar que embora semelhante nas suas funções a todos os mamíferos, existem diferenças significativas entre espécies. Por exemplo, os cães são uma espécie que se demarca das demais no que diz respeito ao seu Sistema Endocanabinoide. Isto porque estes nossos amigos, têm uma maior concentração de recetores Endocanabinóides no tronco cerebral e cerebelo do que qualquer outra espécie. Estas áreas do cérebro controlam a frequência cardíaca, a respiração e a coordenação muscular. Será de salientar que esta característica os torna particularmente susceptíveis ao THC que deve ser evitado como ingrediente no tratamento destes animais, curiosamente, isto acontece em menor escala e com repercussões menos graves, nos gatos.

Métodos de administração de CBD para uso veterinário

O métodos de administração mais comum é a utilização de óleo de CBD diluido em azeite ou óleo de côco e adicionando diretamente à alimentação, ou ainda, colocando diretamente na boca. Além dos óleos, existem também guloseimas com infusão de Cannabis disponíveis para animais de estimação. Estas guloseimas de CBD à base de cânhamo têm pouco ou nenhum THC, sendo por isso seguras, e geralmente eficazes para dores leves a moderadas. Quanto ás soluções tópicas, estas podem ser ótima opção para animais de estimação, embora às vezes o pelo precise ser raspado e claro, medidas devem ser tomadas para evitar que o animal lamba o material aplicado. Por último, em nenhuma circunstancia devem ser utilizados métodos que usem as vias respiratórias dos animais, como no caso de vaporizadores, isto porque contrariamente aos humanos têm sistemas respiratórios muito sensíveis, que não estão de todo equipados para este tipo de administração.

Uso e efeitos terapêuticos

Artrite – existem já varinos estudos sobre a eficácia do CBD para uso veterinário em situação de dor artrítica nos animais, todos com resultados positivos. Um estudo da Cornell University College of Veterinary Medicine mostra que os cães que receberam CBD a uma taxa de 9.7 mg por kilo, duas vezes ao dia e pelo período de um mês, apresentaram uma melhora significativa no alívio da dor e uma evidente melhoria na sua qualidade de vida. O investigador principal de um destes estudos, Joe Wakshlag, DVM, Ph.D., DACVN, revelou que alguns destes cães, que no inicio do estudo estavam em condições tão deploráveis, que os seus donos estavam a considerar a eutanásia como forma de poupar o animal à dor e mal estar prolongados.

Dermatite: Temos já dois estudos cegos, e controlados por placebo em cães que reportam uma redução significativa das vezes que o animal se coça. Um estudo australiano feito pela empresa CannPal, que publicou resultados de o uso de CBD reduziu as lesões cutâneas em 51% apenas oito semanas de tratamento. O outro feito nos EUA, e conduzido pela empresa ElleVet, confirmou os resultados obtidos pela CannPal de acordo com os relatórios dos donos dos animais.

Câncro: Em um estudo da Cornell University sobre o CBD, os cães e esta doença, os pesquisadores descobriram que o CBD ao ser utilizado e conjunto com um medicamento quimioterápico padrão, reduziu a proliferação de células cancerígenas in vitro mais do que o medicamento sozinho.

• Comportamento: A ansiedade e, especialmente, a reatividade ao ruído, é uma das principais razões que levam os donos de cães a procuram ajuda nas terapias à base de CBD. Um estudo produzido pela University of Western Australia, apresenta resultados promissores para mitigar comportamentos agressivos.

• Convulsões: Num estudo da Colorado State University sobre a utilização de CBD para uso veterinário feito em cães, os que receberam CBD por por um período de 12 semanas, tiveram 33% menos convulsões do que aqueles que receberam o placebo. Em abono da verdade, deve ser referenciado que por razões não identificadas, alguns dos cães não mostraram quaisquer melhorias. A fim de resolver este mistério, A AKC – Canine Health Foundation (CHF) está a patrocinar um estudo na Faculdade de Medicina Veterinária e Ciências Biomédicas da Colorado State University, a fim de avaliar o uso de CBD em cães epiléticos resistentes ao tratamento. O CHF espera que este seja o primeiro estudo a obter dados científicos sobre o uso de CBD em cães com essa condição.

• Outros: Existem também evidências, observadas em animais de laboratório, de que o CBD é eficaz em promover e acelerar a cicatrização óssea, a combater infeções, para tratar doenças inflamatórias intestinais, a retardar a mielopatia degenerativa (uma doença que ocorre por compressão da medula espinhal, devida às alterações degenerativas que a coluna sofre com a idade), a suprimir náuseas e eficaz a aliviar a dor.

 

Nota Final

As quantidades a administrar na dosagem, devem ser levadas muito a sério. Devido ao seu pequeno tamanho e ás diferenças fisiológicas acima apresentadas e outras, os animais de estimação não podem ser interpretados como “pequenos humanos”. È portanto muito importante calcular a dosagem certa para cada animal, sendo aconselhável começar com doses mais reduzidas e ir aumentando até se verificares os resultados desejados, mas sempre dentro dos limites para cada espécie e claro tendo em conta a idade e o tamanho de cada um dos nossos amigos peludos.

 

Referências:

> Pharmacokinetics, Safety, and Clinical Efficacy of Cannabidiol Treatment in Osteoarthritic Dog
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30083539/

> Randomized blinded controlled clinical trial to assess the effect of oral cannabidiol administration in addition to conventional antiepileptic treatment on seizure frequency in dogs with intractable idiopathic epilepsy.
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31067185/

> Cannabidiol in canine epilepsy
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36209995/

> Pharmacokinetics, Safety, and Clinical Efficacy of Cannabidiol Treatment in Osteoarthritic Dogs
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6065210/

> Pharmacokinetics of cannabidiol administered by 3 delivery methods at 2 different dosages to healthy dogs
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6038832/

> Cannabidiol, a non-psychoactive component of cannabis and its synthetic dimethylheptyl homolog suppress nausea in an experimental model with rats
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/11973447/

 

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