A Esquizofrenia
Antes de vermos os benefícios que podemos obter na relação entre o CBD e a Esquizofrenia, vamos antes de tudo, rever algumas noções sobre esta condição médica.
O que é a Esquizofrenia?
A esquizofrenia é um transtorno mental grave, sendo, portanto, caracterizado por sintomas psicóticos, uma série de deficits comportamentais, cognitivos e sociais (Millan 2016). A idade típica em que se manifesta é o final da adolescência ou início da idade adulta, com um segundo pico de incidência na meia-idade, especialmente em mulheres (Lopez-Castroman 2019). A proporção de mulheres para homens entre pessoas com esquizofrenia é de 1:1,4, e os homens tendem a ter uma idade mais precoce no início da doença, pior funcionamento pré-mórbido, mais sintomas negativos, menos sintomas afetivos e uma taxa mais alta de uso comórbido de álcool ou substâncias (Giordano 2021).
Considera-se que a esquizofrenia evolui em quatro estágios: um período de risco assintomático, a fase prodrómica, ou seja, o conjunto de sintomas que antecede a manifestação ou, o aparecimento de uma doença com alterações cognitivas e comportamentais. Depois segue-se a fase progressiva com sintomas característicos de psicose e a fase residual com menos sintomas e menos graves (Kahn 2015).
Um problema mundial
A esquizofrenia afeta mais de 20 milhões de pessoas em todo o mundo. Por outras palavras, um por cento da população global (Spencer 2018). Esta condição está entre as causas mais proeminentes de incapacidade em todo o mundo (Spencer 2018). Devido à complexidade da doença, o impacto nos orçamentos dos sistemas de saúde é considerável, não só devido aos custos diretos associados ao tratamento médico, mas também devido aos custos não médicos, como cuidados e perda de produtividade (Tajima‐Pozo 2015). Nos EUA, Por exemplo, os pacientes com Esquizofrenia têm custos médicos diretos superiores em 24% e indiretos em 76% do que indivíduos sem esquizofrenia. (Cloutier 2016).
Os sintomas característicos da Esquizofrenia podem ser agrupados em categorias positivas, negativas e cognitivas (Kahn 2015). O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, Quinta Edição (DSM-5) e a Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID) organizam esses sintomas característicos em critérios que definem a duração dos sintomas, o impacto no funcionamento diário e certos critérios de exclusão (Kahn 2015).
Em síntese, de acordo com estes organismos, um diagnóstico de esquizofrenia é baseado na presença destes sintomas:
- Positivos: Estes podem incluir delírios, alucinações, fala e comportamento desorganizados).
- Negativos: por exemplo, achatamento afetivo, ou seja, sintoma definido pela apresentação de uma expressividade emocional altamente reduzida, resultando em isolamento emocional e social.
- Cognitivos: Quando existe uma substancial diminuição do funcionamento social e ocupacional, na exclusão de outras condições que possam contribuir ou explicar os sintomas (APA 2013).
O tratamento da Esquizofrenia e o CBD
Por norma, após o diagnostico, os agentes antipsicóticos são a primeira linha de tratamento para pessoas com esquizofrenia, geralmente combinados com tratamentos não farmacológicos, como a psicoterapia. O principal objetivo do tratamento é melhorar os sintomas psiquiátricos, o funcionamento na vida social e a qualidade de vida, com efeitos adversos mínimos (Patel 2014). No entanto, entre 30% e 60% dos indivíduos que são assim tratados não respondem à terapia farmacológica (Gillespie 2017). Consequentemente, novas opções terapêuticas foram desenvolvidas para melhorar os sintomas psicóticos, os sintomas negativos, o comprometimento cognitivo e os resultados sociais em pessoas com esquizofrenia. (Kennedy 2014)
A cannabis é um produto botânico com origens que remontam ao mundo antigo (Bridgeman 2017). É derivado principalmente de dois tipos de plantas: Cannabis indica e Cannabis Sativa. Os humanos têm utilizado os produtos derivados da Cannabis Sativa por mais de dois milénios para fins medicinais (Cohen 2019). A planta de Cannabis contém um total de 483 compostos, mais de 120 dos quais são componentes bioativos, conhecidos coletivamente como Fitocanabinóides (Brenneisen 2007). Entre eles. o canabidiol (CBD), um componente natural encontrado em plantas de Cannabis que não tem os efeitos negativos. O CBD é geralmente administrado por via oral na forma de cápsula ou em solução oleosa. Há evidências de sua eficácia no tratamento da dor, demência, doença de Parkinson e esquizofrenia (Cohen 2019). O CBD é bem tolerado e tem relativamente poucos efeitos adversos graves, embora nem todos os potenciais efeitos tóxicos tenham sido estudados (OMS 2017; Chesney 2020).
Como pode o CBD ajudar as pessoas com Esquizofrenia?
Os canabinóides têm como alvo o Sistema Endocanabinoide do cérebro, que está envolvido em muitos processos de Neuro-Modulação. O sistema Endocannabinoide é afetado negativamente em pessoas com esquizofrenia (An 2020). O CBD parece inibir moderadamente a degradação do Endocannabinoide conhecido como Anandamida. Este é a substância mais conhecida no sistema Endocannabinoide. Foi, no entanto, apenas descoberta em 1992 e vulgarmente conhecida como o neurotransmissor da felicidade. Os ácidos graxos da planta Cannabis, são moduladores fundamentais para o bom funcionamento do sistema Endocannabinoide e para a manutenção da Homeostase no corpo humano.
Esta é, portanto, a essencial tendência a resistir a mudanças, isto a fim de manter um ambiente interno estável, relativamente constante, que assim sendo, pode exercer um efeito antipsicótico e melhorar os processos cognitivos em pessoas com esquizofrenia (Beltramo 2000; Leweke 2012; Patel 2014; Schoevers 2020). Além disso, o CBD pode interagir com múltiplos sistemas recetores e é um modulador alostérico negativo do recetor CB1, pelo que pode produzir um efeito antipsicótico e prevenir efeitos adversos (Laprairie 2015).
Os efeitos práticos do CBD na Esquizofrenia:
As primeiras descobertas sobre o efeito do CBD em pessoas com esquizofrenia são, contudo, apresentadas já em 1995. Analogamente, um relatório médico descreve o caso de uma mulher de 19 anos diagnosticada com Esquizofrenia. Em síntese, neste relatório, esta mulher apresentou melhoras na Escala Breve de Avaliação Psiquiátrica (BPRS), especialmente nos sintomas psicóticos, isto após receber tratamento com CBD (Zuardi 1995). Muitos estudos se seguiram, a este. Num deles, efetuado em ratos, o CBD foi comparado com Haloperidol e Clozapina. Que são medicamentos utilizados no tratamento da esquizofrenia para prevenir a hiper-locomoção induzida pela Anfetamina ou Cetamina. Este estudo descobriu que tanto o CBD como a Clozapina eram eficazes. (Moreira 2005).
Num outro estudo, porém desta vez em humanos, a Cetamina foi utilizada para induzir um estado psicótico em voluntários saudáveis que já tinham recebido um placebo ou CBD. Como resultado, o grupo que recebeu CBD mostrou efeitos atenuados da Cetamina na Escala de Estados Dissociativos Administrados pelo Clínico, o que apoia a hipótese de que o CBD poderia servir como um agente antipsicótico (Hallak 2011). Da mesma forma, estudos de neuroimagem e comportamentais demonstraram os efeitos contrastantes do THC e do CBD (indução versus proteção contra psicose; Bhattacharyya 2010; Bhattacharyya 2012; Bhattacharyya 2015). Ensaios clínicos sobre o CBD descobriram que este pode diminuir os sintomas positivos. Além disso, pode melhorar o funcionamento cognitivo em pessoas com esquizofrenia quando usado como complemento à terapia antipsicótica (Boggs 2018; McGuire 2018) ou como mono-terapia (Leweke 2012).
Curiosidades
Impressões digitais diferentes:
Entre as manifestações mais estranhas da esquizofrenia, estão em primeiro lugar, as impressões digitais anormais em alguns pacientes. Esses achados sugerem que os padrões de impressão digital esquerda de pessoas com esquizofrenia são, portanto, diferentes dos controles normais. Isto é consistente com o relato de maior frequência de padrão de arco e menor frequência de padrão de verticilo. O Dr. Russell Louis Margolis explica este fenómeno da seguinte forma:
-“Tem a ver com a forma e o número de giros e voltas.”-
A que ele acrescenta:
-“As impressões digitais começam a desenvolver-se ao mesmo tempo em que o cérebro começa a tomar forma no útero. Há uma ligação biológica de desenvolvimento entre a pele e o cérebro.”-
Bibliografia
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8343183/
https://academic.oup.com/schizbullopen/article/3/1/sgab053/6445173
https://ajp.psychiatryonline.org/doi/pdf/10.1176/appi.ajp.2017.17030325
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0165178120312373