O que é a Fibromialgia
A fibromialgia é uma condição médica crónica caracterizada por dor musculoesquelética generalizada, fadiga persistente, perturbações do sono e dificuldades cognitivas, muitas vezes descritas pelos pacientes como “nevoeiro mental”.
Afeta milhões de pessoas em todo o mundo, correspondendo a cerca de 5% a 7% da população global, e é considerada uma das principais causas de dor crónica não oncológica (Häuser et al., 2015) segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Nos últimos anos, a relação entre o CBD e a fibromialgia tem despertado crescente interesse científico, uma vez que o canabidiol é estudado pelo seu potencial em modular a dor e melhorar a qualidade de vida de quem vive com esta síndrome.
Antes de explorarmos como o CBD pode atuar nesta condição, é importante compreender o que é a Síndrome de Fibromialgia (SFM) e de que forma afeta o corpo e o sistema nervoso.
Compreender a Síndrome de Fibromialgia é essencial para perceber como o CBD pode atuar nesta condição.
Do ponto de vista científico, a etiologia da fibromialgia permanece incerta, mas acredita-se que envolva alterações no processamento da dor pelo sistema nervoso central, resultando em hipersensibilidade dolorosa (hiperalgesia) e amplificação dos estímulos sensoriais (Clauw, 2014).
A doença é mais comum em mulheres (2:1) e tende a surgir entre os 30 e os 50 anos.
Além disso, é frequente a coexistência com outras patologias reumáticas, como artrite reumatoide, lúpus e síndrome do intestino irritável, afetando cerca de 20 a 30% desses pacientes (Wolfe et al., 2016).
O CBD e o Sistema Endocanabinoide
O Sistema Endocanabinoide (SEC) é um complexo sistema de sinalização biológica que regula processos como a dor, inflamação, sono, humor e resposta imunitária.
Atua através dos recetores CB1, presentes sobretudo no sistema nervoso central, e CB2, localizados principalmente nas células imunitárias e tecidos periféricos.
O canabidiol (CBD), um dos principais fitocanabinoides da planta Cannabis sativa L., interage com estes recetores de forma indireta, ajudando a modular a perceção da dor e a resposta inflamatória (Russo, 2016).
Ao contrário do THC, o CBD não tem efeitos psicoativos e é geralmente bem tolerado, com um perfil de segurança considerado elevado pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2017).
Estudos sugerem que o CBD atua ainda sobre outros sistemas de recetores, como os TRPV1 (envolvidos na dor e temperatura) e os 5-HT1A (serotonina), o que pode explicar o seu potencial ansiolítico e analgésico (De Gregorio et al., 2019).
O CBD e a Fibromialgia: Evidência Científica
O uso de CBD em doentes com fibromialgia tem vindo a ser estudado como alternativa complementar a terapias convencionais. A hipótese principal é que o CBD ajude a restaurar o equilíbrio endocanabinoide, reduzindo a sensibilidade à dor e melhorando o bem-estar geral.
- Estudos Clínicos e Observacionais
Um estudo transversal realizado com 2.701 pacientes com fibromialgia revelou que 32% usavam CBD ativamente e mais de 60% relataram melhorias moderadas a significativas em sintomas de dor, fadiga e sono (Boehnke et al., 2021).
Outros participantes relataram usar o CBD como substituto de opioides, referindo menos efeitos secundários e maior controlo da dor crónica (University of Michigan, 2021).
Em 2020, uma análise de dados publicada na Journal of Pain concluiu que o uso de canabinoides, incluindo CBD isolado, estava associado à redução da dor e melhoria da qualidade do sono em pacientes com fibromialgia (van de Donk et al., 2020).
Mecanismos de Ação
Os efeitos analgésicos e anti-inflamatórios do CBD parecem estar relacionados com:
- Modulação dos recetores CB1 e CB2, reduzindo a hipersensibilidade da dor.
- Inibição da libertação de glutamato e GABA, neurotransmissores envolvidos na perceção da dor.
- Redução da inflamação periférica e central, através da diminuição de citocinas pró-inflamatórias (IL-1β, TNF-α) (Sagy et al., 2019).
- Interação com recetores de serotonina (5-HT1A), o que pode contribuir para redução da ansiedade e melhoria do sono (De Gregorio, 2019).
O Que Dizem os Pacientes
De acordo com dados de investigações recentes, a maioria dos pacientes que usam CBD relatam melhorias perceptíveis na dor, sono e bem-estar emocional.
Ainda assim, apenas um terço discute o uso de CBD com o seu médico, o que demonstra a necessidade de melhor comunicação entre pacientes e profissionais de saúde (Boehnke et al., 2021).
Estudos futuros deverão focar-se em ensaios clínicos controlados e com maior duração, para determinar dosagens ideais, mecanismos precisos e potenciais interações medicamentosas.
Perspetiva Atual e Segurança
O CBD é geralmente bem tolerado, com efeitos adversos leves, como fadiga, diarreia ou sonolência, geralmente dependentes da dose.
Contudo, não substitui tratamentos médicos prescritos e deve ser considerado apenas como opção complementar, sempre sob orientação profissional.
A OMS considera o CBD um composto seguro e sem potencial de dependência, o que o torna uma alternativa interessante para doentes com dor crónica resistente aos analgésicos convencionais (OMS, 2017).
Conclusão
Embora ainda sejam necessários mais ensaios clínicos, as evidências atuais sugerem que o CBD pode desempenhar um papel relevante no controlo da dor e fadiga associadas à fibromialgia.
O seu potencial anti-inflamatório e modulador do sistema nervoso central oferece uma nova abordagem complementar para o alívio dos sintomas desta condição debilitante.
A investigação nesta área continua a expandir-se, trazendo esperança e novas perspetivas terapêuticas para milhões de pessoas que vivem com fibromialgia.
Referências Científicas
- Häuser, W. et al. (2015). Fibromyalgia syndrome: classification, diagnosis, and treatment. Nature Reviews Rheumatology, 11(9), 513–520.
- Clauw, D.J. (2014). Fibromyalgia: A clinical review. JAMA, 311(15), 1547–1555.
- Wolfe, F. et al. (2016). Fibromyalgia criteria and severity scales for clinical and epidemiological studies. Arthritis Care & Research, 68(11), 1604–1612.
- Russo, E.B. (2016). Beyond cannabis: Modulation of endocannabinoid tone by phytocannabinoids. British Journal of Pharmacology, 173(7), 1341–1362.
- World Health Organization (2017). Critical Review Report: Cannabidiol (CBD). Geneva: WHO.
- De Gregorio, D. et al. (2019). Cannabidiol modulates serotonergic transmission and reverses antidepressant-resistant symptoms. Frontiers in Pharmacology, 10, 1365.
- Boehnke, K.F. et al. (2021). Patterns of naturalistic CBD use in fibromyalgia and chronic pain. The Journal of Pain, 22(8), 1025–1038.
- van de Donk, T. et al. (2020). An experimental randomized study on the analgesic effects of cannabis in fibromyalgia. Journal of Pain, 21(7-8), 1005–1018.
- University of Michigan (2021). People with fibromyalgia substituting CBD for opioids to manage pain. Michigan Medicine News.
- Sagy, I. et al. (2019). Safety and efficacy of medical cannabis in fibromyalgia. Journal of Clinical Medicine, 8(6), 807.
Aviso importante
As informações apresentadas neste artigo têm caráter exclusivamente informativo e educacional. O uso de produtos com CBD é da responsabilidade exclusiva do consumidor. A Native Amsterdam não promove nem recomenda a utilização de produtos com CBD para fins medicinais ou de ingestão.


