Introdução
A planta Cannabis Sativa é usada medicinalmente há vários milhares de anos. Possui mais de 500 metabólitos considerados responsáveis por seus efeitos terapêuticos. Dois dos principais fitocanabinoides são o Canabidiol (CBD) e o Tetrahidrocanabinol (THC). Ao contrário do THC, o CBD não tem quaisquer efeitos psicoativos, sendo, portanto, seguro para qualquer idade ou condição psicológica. A investigação pré-clínica e clínica, indica que o CBD tem uma vasta gama de efeitos terapêuticos. Muitos destes efeitos, são relevantes para o tratamento do cancro.
Neste artigo, exploramos alguns dos potenciais mecanismos de ação do CBD no cancro. As evidências da sua eficácia na gestão integrativa desta doença, demonstrando o seu potencial de integração com os cuidados oncológicos ortodoxos.
Um inquérito realizado em 926 pacientes do Centro de Investigação do Cancro Fred Hutchinson (Seattle), concluiu que 66% tinham utilizado CBD anteriormente. 4% no último ano e 21% no último mês. Destes usuários ativos, cerca de 75% usavam Cannabis para sintomas físicos (dor, náusea, apetite). 63% para sintomas neuropsiquiátricos (stress, redução de sintomas, depressão/melhora do humor e melhor sono). 26% relataram acreditar que a CBD estava ativamente a tratar o câncer de que padeciam.
De forma encorajadora, independentemente do sintoma, aproximadamente 51% consideraram o CBD como sendo um “benefício importante” e 39% como um “benefício moderado”. Uma pesquisa on-line anónima com 612 membros das comunidades Breastcancer.org e Healthline.com baseados nos EUA, com diagnóstico de cancro da mama, descobriu que 42% usavam CBD para alívio dos sintomas. Estes dividindo-se em dor (78%), insónia (70%), ansiedade (57%), stress (51%) e náuseas/vómitos (46%). Destes, 46% acreditando de que a Cannabis pode tratar o cancro em si. Daqueles que usam CBD, 79% usaram-no durante o tratamento (terapias sistémicas, radiação, cirurgia).
Como funciona
A planta Cannabis Sativa possui várias centenas de metabólitos secundários e o canabidiol (CBD) é um dos principais fitocanabinoides. Nos vários estudos clínicos realizados e mencionados na bibliografia, podemos encontrar evidências empíricas de que o CBD pode ser útil na gestão integrativa do cancro. Estes incluem alguns dos seus mecanismos de ação relevantes, evidências de eficácia no tratamento do cancro e sintomas associados ao cancro e/ou ao seu tratamento. Além disso, temos também provas clínicas de que o CBD pode melhorar os tratamentos ortodoxos contra o cancro.
Destes estudos, existem vários para os quais gostaria de chamar a atenção dos leitores, incluindo Seltzer e colegas, Mangal e colegas, e Moreno e colegas. Em particular, o artigo de Seltzer e colegas, fornece um resumo excelente e aprofundado dos mecanismos de ação do CBD em várias formas de cancro. Ilustrando a extensão da investigação pré-clínica que apoia a afirmação de que o CBD é um agente anticancerígeno eficaz. Todos estes estudos estão nas referências do primeiro link que colocado na bibliografia deste artigo.
Conforme indicado acima, vários estudos pré-clínicos, revelaram que o CBD tem propriedades anticancerígenas. Estes tratando muitos dos seus sintomas e/ou atacando diretamente as células que causam a doença nas suas mais variadas formas.
Eficácia do Tratamento
Isto traduz.se em ações pró-apoptóticas e antiproliferativas dos CBD que foram demonstradas em muitos tipos de câncer. As ações do CBD incluem a interrupção do ciclo celular, indução de apoptose, inibição da quimiotaxia, migração de células cancerígenas, adesão, angiogênese, invasão e claro da metástase. No entanto, e isto é um fator importante, a viabilidade das células normais (não transformadas) não só não são afetadas. Pelo contrário, são favorecidas sob tratamento com CBD. Isto porque a estimulação dos recetores canabinóides ativa diferentes mecanismos de sinalização em células transformadas e normais.
Assim, considerando especificamente o CBD, a literatura indica uma comprovada capacidade do CBD para inibir a progressão de diferentes tipos de cancro. Além disso, incluindo glioblastoma (GBM), cancro da mama, pulmão, próstata e cólon, e melanoma. Por exemplo, num modelo de melanoma, o tratamento com CBD foi associado a uma redução significativa no tamanho do tumor em comparação com o placebo e ao aumento do tempo sobrevivência dos pacientes, mesmo nos casos em que a cura não foi alcançada.
Uma Solução comprovada cientificamente
É, portanto, agora evidente que o CBD afeta muitas características tumorais e vias moleculares, e talvez isto não seja surpreendente, dado o facto de o CBD ter muitos alvos. Grande parte da atividade antitumoral do CBD é através da sua regulação de espécies reativas de oxigénio (ROS), stress do retículo endoplasmático (ER) e modulação imunológica (todos importantes na tumorigénese). Por exemplo, embora o CBD tenha uma potente atividade antioxidante, descobriu-se que o CBD é citotóxico para as células de glioma humano, desencadeando a ativação de caspases e o stress oxidativo. A exposição do CBD às células de glioma humano causou uma produção precoce de ROS, depleção da glutationa intracelular, aumento da atividade da glutationa redutase e da glutationa peroxidase, mas não prejudicou a glia normal primária.
Nesse sentido, foi demonstrada uma sensibilidade diferente ao efeito antiproliferativo do CBD em células de glioma e células não transformadas, que se acredita estar associada a uma capacidade seletiva do CBD para induzir a produção de ROS e ativar caspases em células tumorais. Estes, são uma família de endoproteases que fornecem ligações críticas nas redes reguladoras celulares que por sua vez, controlam a inflamação e a morte celular. Simultaneamente, outra investigação descobriu que a exposição de células cerebrais não malignas (incluindo células estaminais e/ou progenitoras neurais humanas e astrócitos fetais humanos imortalizados) ao CBD não estava associada à indução de apoptose. Outras experiências em glioma, leucemia e células de cancro da mama também demonstraram que o CBD desencadeia um mecanismo de sinalização que envolve a geração de ROS.
Conclusão
Em síntese, as centenas de pesquisas realizadas comprovam que o CBD sozinho ou em conjunto com outros agentes pode induzir a morte celular das células cancerígenas, inibir a migração e invasão celular, reduzir o tamanho dos tumores, reduzir a vascularização e induzir a regressão tumoral e claro, aumentar a sobrevivência. O CBD é assim não só uma mais valia par todos os pacientes de Cancro, como essencial no seu tratamento e melhoria das condições de vida dos que padecem desta condição médica. Isto porque conforme indicado extensivamente acima, pode modular o micro-ambiente tumoral, reduzindo a secreção de citocinas das células cancerígenas, contribui para a diminuição do recrutamento de macrófagos do microambiente tumoral pelas células cancerosas, suprime a angiogênese dentro do tumor, limitando o fornecimento de oxigênio e nutrientes necessários para o crescimento do tumor.
Por último, o CBD pode assim inibir exossomos e microvesículas (EMV), mediadores da comunicação intercelular liberados pelas células que afetam muitos processos fisiológicos e patológicos, incluindo a migração celular, diferenciação e angiogênese. Assim sendo, o aumento da liberação de EMV, em particular em associação com a resistência à quimioterapia e na transferência ativa de fatores pró-oncogênicos, e a resistência aos medicamentos quimioterápicos pode ser parcialmente devida à eliminação de EMV das células cancerígenas, o que auxilia no aumento do efluxo de medicamentos ativos.
Bibliografia:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8869992/
https://www.researchgate.net/publication/358562151_Cannabidiol_CBD_in_Cancer_Management
https://www.mdpi.com/2072-6694/12/11/3203
https://unique-therapeutics.com/wp-content/uploads/2023/03/biology-11-00817.pdf
https://aarm.s3.amazonaws.com/journal/cbd-physiological-modulator-cancer.pdf
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1043661822002122
https://ciencia.ucp.pt/files/64679196/64679082.pdf